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CÓDIGOS – INTELIGÊNCIA OU APENAS NÚMEROS? 

By October 3, 2020 No Comments

Neste artigo vou trazer informações relevantes e uma mistura de tendências relacionadas ao universo do ALIM (Asset Lifecycle Information Management) combinados com os antigos princípios básicos dos sistemas GED, ECM e PLM.  

Um dos tópicos que sempre surge em qualquer implementação dos sistemas de gestão e implantação de grandes projetos industriais é o esquema de numeração que identifica cada item que compõem o enorme acervo de partes, peças, equipamentos, documentos e serviços que compõem o projeto. Podemos utilizar números ou códigos com algum tipo de significado ou lógica, os chamados números inteligentes, ou podemos trabalhar com números sem nenhuma lógica. E, claro, a questão do impacto da mudança de números inteligentes para números sequenciais únicos sem qualquer sentido. 

Por qual razão os números inteligentes foram e ainda continuam sendo utilizados? 

A numeração de partes, peças e documentos dita inteligente foi bastante usada no passado para ajudar projetistas, engenheiros e pessoas do chão de fábrica por dois motivos. Antigamente, a maioria dos projetos tinha como base a disciplina mecânica. Muitas vezes, as empresas tinham uma relação individual entre a peça e o desenho e por esta razão o código da peça era idêntico ao número do desenho.  

Um código inteligente pode ter o seguinte formato: DA-1000-33K3-A 

Este código foi, obviamente, inventado por mim, pois tal formato de um código inteligente é conhecido apenas por especialistas da própria empresa ou área que o criou. No meu caso, eu estava pensando em uma peça cujo código do produto seria “D”, do tipo “A”, sequencial 1000, padrão 33K3 e a revisão do desenho “A”. 

Uma pessoa que está trabalhando na produção ou montagem e está lendo a lista técnica ou a lista de materiais (BOM – Bill of Materials), sabe imediatamente todas as características do item pelo número do desenho. É claro que a palavra “imediatamente” é válida apenas para pessoas que têm experiência com o uso desta metodologia e padrão. E isso não foi tão doloroso no século anterior como é agora. Os projetos, equipamentos e produtos não eram tão sofisticados quanto são agora e a variação nos produtos era bastante limitada se comparado com os tempos atuais. A dinâmica dos projetos também era diferente e a globalização das informações ainda era um sonho. Os projetos ditos “fast tracks” ocasionam mudanças constantes que acarretam alterações nas lógicas pensadas no início. Quem nunca trabalhou em um projeto que mudou a lógica de numeração duas, três ou mais vezes durante sua existência? E o custo de refazer toda esta numeração?  

Mais tarde, quando as informações se tornaram digitais, os números inteligentes também foram usados ​​pela engenharia para classificar suas partes. Os dígitos da classificação ajudariam o engenheiro ou projetista a encontrar peças semelhantes em um diretório ou lista de desenhos. A inteligência da mapoteca havia sido transferida para o computador. 

No final das contas, se o mundo não tivesse mudado, ainda haveria números inteligentes para identificar peças, partes, equipamentos, serviços e documentos. 

Abaixo vamos discutir alguns argumentos e razões pelas quais a utilização dos números ditos inteligentes pode não ser uma boa ideia. 

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Um esquema inteligente de números funciona em um mundo perfeito e utópico, onde nada muda. Na vida real, as empresas se fundem com outras empresas e surge a pergunta: Introduzimos um novo esquema de numeração ou um dos esquemas será o esquema perfeito para o futuro? Se isso aconteceu algumas vezes, uma empresa pode pensar: Temos que passar por isso de novo e de novo? Como provavelmente o tópico 2 também ocorreu. 

Os esquemas de numeração inteligente não suportam mais a dinâmica e a complexidade atual dos processos. Os produtos mudam de          mecânicos para sistemas, contendo componentes eletrônicos e software incorporado. O sistema de numeração inteligente nunca foi capaz de suportar tal avanço de forma satisfatória. Existe um padrão de numeração em excesso? Está ficando complicado, talvez possamos mudar? E aqui entra o tópico # 3. 

Como agora podemos armazenar informações de maneira digital, podemos vincular a esse número de peça, equipamento, serviço ou documento alguns atributos descritivos que nos ajudam a identificar o componente. Aqui, o número está se tornando menos importante, ainda servindo como acesso aos metadados exclusivos. Considere-o como um código de barras em um produto. Ninguém mais lê o código de barras sem um dispositivo conectado a um sistema de informação que fornece as informações corretas. Isso nos leva ao tópico # 4. 

Em uma empresa digital, onde os dados fluem entre sistemas e empresas, o que chamamos atualmente de “Trilha Digital”, identificadores ou “ID’s” exclusivos são necessários para conectar conjuntos de dados entre sistemas. O exemplo mais óbvio são os dados mestre das peças ou itens utilizados nos projetos. Você encontrará um “ID” exclusivo nos sistemas PDM, PLM ou ALIM onde os atributos para a identificação geral (Descrição, Revisão, Status, Classificação) e outros atributos relevantes para a engenharia (peso, material, volume, dimensões). No sistema ERP, você encontrará um conjunto de dados com os mesmos códigos ou identificadores e atributos mestres. No entanto, aqui eles são estendidos com atributos relacionados à custo, suprimentos, logística, finanças, tributação, etc. O identificador exclusivo fornece a garantia de que os dados estão conectados da maneira correta e que as informações podem fluir estando conectadas entre sistemas sem interpretação humana ou tempo de processamento gasto por humanos. E, por incrível que pareça, ainda existem grandes empresas que se quer tem os sistemas de engenharia conectados ao ERP e ainda geram suas Requisições de Compra de forma manual. 

Como consequência do tópico #4, é comum encontrar nas empresas o que chamamos de “Silos departamentais” ou “Silos Organizacionais”. Os silos organizacionais acontecem quando uma empresa não é capaz de fazer com que seus setores se comuniquem e cooperem para um único objetivo em comum: o sucesso do negócio.  

 

 

Empresas que ainda utilizam os números inteligentes são, em sua grande maioria, grandes silos que não se comunicam e muitas delas não fazem ideia que estão imersas nesta situação, perdendo eficiência a cada segundo de operação. 

 

 

 

Você se identificou com este post? E agora? O que fazer na sua empresa? 

Não há justificativa apenas comercial para começar a alterar codificação apenas para fins futuros. Você precisa de um motivo mais amplo, caso contrário, apenas aumentará os custos e criará um potencial para erros de migração. Mover sua metodologia de trabalho para números sem inteligência pode ser mais produtivo se feito no momento em que uma alteração seja necessária. Por exemplo, quando você implementa um novo sistema GED, ECM, PLM ou ALIM, quando sua empresa se funde com outra empresa ou com a implantação de um grande projeto. Nesses momentos, a numeração das peças, partes, equipamentos e documentos deve ser considerada com o futuro em mente.  

E o futuro não é mais sobre memorizar classificações e números de peças, mesmo que você seja da geração que costumava estruturar e gerenciar tudo dentro do seu cérebro. As empresas futuras dependem de informações conectadas digitalmente, onde uma pessoa com base na interpretação da máquina de um código exclusivo obterá os dados relevantes e significativos. A indústria 4.0, os gêmeos digitais e a realidade aumentada estão se tornando cada vez mais disponível. Agora é sobre seres humanos que precisam se preparar para um futuro moderno. 

Conclusão 

Os números inteligentes são uma prática recomendada do século anterior. Comece a pensar digital e conectado e tente reduzir a dependência de entender o número de peças, documentos e demais componentes em todas as suas atividades comerciais. Avance seu modo de pensar para fornecer dados realmente relevantes para os demais envolvidos no dia a dia dos processos. Isso pode ser uma evolução que suaviza uma futura etapa de implementação de um sistema PLM ou mesmo de um ALIM.  

Fiquem à vontade para comentar, citar exemplos e discordar. Gostaria muito de obter as opiniões dos profissionais que, assim como eu, trabalham pela inovação e melhoria contínua na implantação de grandes projetos industriais.